Páginas

quinta-feira, 28 de junho de 2012

FÉRIAS!!!


A noção de férias está ligada a figuras de viagem, esporte, aplicações intensivas do corpo; quase nada a descanso.
As pessoas executam durante esse intervalo aquilo que não puderam fazer ao longo do ano; fazem "mais" alguma coisa, de sorte que não há férias, no sentido religioso e romano de suspensão de atividades. Matutando nisso, resolvi tirar férias e gozá-las como devem ser gozadas: sem esforço para torná-las amenas.

                                  

A idéia de viagem foi expulsa do programa: é das iniciativas mais comprometedoras e tresloucadas que poderia tomar o trabalhador vacante. As viagens ou não existem, como é próprio da era do jato, em que somos transportados em velocidade superior à do nosso poder de percepção e de ruminação de impressões, ou existem demais como burocracia de passaporte, filas, falta de vaga em hotel, atrasos, moeda aviltada, alfândega, pneu estourado no ermo, que mais? Quanto à prática de esportes, sempre julguei de boa política deixá-la entregue a personalidades como Éder Jofre, Maria Ester Bueno ou Pelé, que dão o máximo. A performance desses ases satisfaz plenamente, e não seria eu num mês de férias que iria igualá-los ou sequer realçá-los pelo contraste. Bem sei que o esporte vale por si, não pelos campeonatos; mas também, como passatempo, carece de sentido. Pescar, caçar pequenos bichos da mata? Nunca. Se esporte e morte acabam pelo mesmo som, para mim nunca rimaram. Havia também os trabalhos, os famosos trabalhos que a gente deixa para quando repousar dos trabalhos comuns. Organizar originais de um livro. Escrever uma página de sustância (está pronta na cabeça, falta só botar o papel na máquina!). Pesquisar em arquivos. Arrumar papéis. Mudar os móveis de lugar. E os deveres adiados, tipo "visitar o primo reumático de Del Castilho". A idéia de conhecer o Rio, conhecer mesmo, que nos namora há 20 anos: tomar bondes esdrúxulos, subir morros, descobrir lagoas de madrugada. Por último, o sonho colorido dos gulosos, sacrificados durante o ano: comer desbragadamente pratos extraordinários, sem noção de tempo, saúde, dinheiro.
Tudo aboli e fiz a experiência das férias propriamente ditas, que, como eliminação das atividades ordinárias e exteriores, pode parecer estado contemplativo ou exercício de ioga. Não é nada disso. Exatamente porque abrem mão de tudo, as boas férias não devem tender à concentração espiritual nem à contenção da vontade. São antes um deixar-se estar, sem petrificação. Levantar se mais tarde? Se não fizer calor; um direito nem sempre é um prazer. Ir ao Arpoador? Se ele nos chama realmente, não porque a manhã e a água estão livres. O mesmo quanto a diversões, muitas vezes menos divertidas do que a noção que temos delas.
Divertir-se é desviar-se, e não convém que nos desviemos das férias, enchendo o tempo com programas de férias. Deixemos que ele passe, sutil; não o ajudemos a passar. Há uma doçura imprevista em sentir-se flutuar na correnteza das horas, em sentir-se folha, reflexo, coisa levada; coisa que se sabe tal, coisa sabida mas preguiçosa. Se me pedirem para contar o que fiz afinal nestas férias, direi lealmente: ignoro. Aos convites disse não, alegando estar em férias, alegação tão forte como a de estar ocupadíssimo. O pensamento errou entre mil avenidas, não se deteve em nenhuma; cada dia amadureceu e caiu como um fruto. Nada aconteceu? O não acontecimento é a essência das férias. E agora, é trabalhar duro onze meses para merecer as inofensivas e deliciosas férias do não.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 4 de junho de 2012

LEITURA COMPLEMENTAR - 1º ANO


EDUCAÇÃO INFANTIL: O CAMINHO DA CONSCIÊNCIA

Muito se fala sobre o verdadeiro papel de uma Instituição de Educação Infantil na formação da criança... Alguns pais e educadores afirmam que esse segmento educacional tem como finalidade preparar para o processo de alfabetização, “ensinando” números, letras e símbolos. Outros acreditam tratar-se de uma etapa de total liberdade social da criança, quando a mesma deve agir livremente, sem grandes intermédios dos adultos. Enfim, muitas ideias se fazem presentes no campo da Educação.
Entretanto, educadores de Educação Infantil sabem o quanto é abrangente definir uma pedagogia específica para esse segmento de ensino! Trata-se de um ser em constante processo de formação e transformação: a CRIANÇA. É na primeira infância que se torna indispensável o conhecimento do mundo no qual estamos inseridos, a noção de valores como “o certo e o errado” em algumas ações, a criação de hábitos e atitudes para o convívio na comunidade.
Mas, é na primeira infância que vivenciamos uma das maiores lições da vida: a aprendizagem social! Aprendemos a CONVIVER, a RESPEITAR, a COMPREENDER as vontades do outro. Na Escola, esses valores são experimentados a cada instante: nas atitudes de esperar a sua vez de falar, de merendar coletivamente, de emprestar o brinquedo ao amigo... Na sociedade atual onde jovens queimam índios, batem em moradores de rua e desrespeitam autoridades, essas “pequenas-grandes” ações formam o verdadeiro alicerce para a construção de uma sociedade mais justa e humanitária.
Portanto é a Educação Infantil que abre as portas do mundo em sociedade para uma criança. É a primeira grande comunidade na qual ela aprende a conviver com tantos outros companheiros de diferentes características, a respeitar e entender as rotinas, a ajudar o amigo quando necessita e, acima de tudo, aprende a expressar-se...
Expressar-se não significa repetir palavras, frases... É a tentativa da criança de demonstrar, de forma autônoma, aquilo que ela observa ao seu redor, suas emoções, seus medos e suas vontades. Toda criança deve conviver em um ambiente onde sinta prazer em expressar-se, pois assim ela sentir-se-á entendida, ouvida e respeitada. Em consequência, aprenderá a ouvir e a respeitar os demais em suas ideias, fazendo prevalecer o real sentido de uma sociedade democrática.
Nesse contexto, todos os conteúdos não são ensinados, mas compartilhados, desenvolvidos no grupo, onde o professor também está envolvido. O educador infantil torna-se o mediador de um longo e constante processo muito prazeroso de descobertas da criança, e não deve representar aquele que ensina algo pronto. Paulo Freire referia-se ao professor como “aquele que aprende sempre”, e esse é o nosso posicionamento no Jardim Brotoeja. Alunos e professores estão inseridos em uma grande comunidade onde expressam ideias, dão sugestões, trazem novidades.
Pular uma etapa desse desenvolvimento, avançando a criança em períodos escolares, é evitar que ela vivencie cada momento dessas descobertas, é não permitir que ela amadureça gradativamente, através de suas experiências individuais e coletivas.
Por fim, a Instituição de Educação Infantil deve estar a serviço dos conhecimentos a respeito do ser humano, da formação de valores com relação a eles, preocupada em despertar a potencialidade de cada aluno, em suas particularidades. Assim, todo o currículo da Escola será aprendido pelo aluno de uma forma muito consciente, pois, acima de tudo, ele compreenderá a importância do saber na construção de um mundo cada vez melhor!

Gabriela Abreu da Silva Gouvêa, Pedagoga (UFF), Psicopedagoga (PUC-RJ) com especialização em Neuropsicologia (CNA), Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade (UVA).