A produção de vídeo na escola é um
processo que vai muito além do aprendizado das técnicas de roteirização,
gravação e edição. Ela é, na verdade, um meio de colocar em prática um modelo
de educação em que alunos e professores são co-participantes, autores,
colaboradores em diálogo.
Durante as etapas de produção de um
vídeo, diversas competências são acionadas. Na identificação e seleção de
temas, o professor aprende a abertura para o universo do aluno, para os temas,
problemas e gostos que lhe são próprios. Os estudantes aprendem a olhar
criticamente o mundo, identificar seu próprio universo e a valorizá-lo. Durante
a leitura crítica de vídeos, descobre- se que as mensagens são representações
possíveis da realidade e, pelo exercício indutivo, chega-se a outras
possibilidades não exploradas pelos meios de comunicação. Na construção do argumento,
selecionam-se aspectos importantes do tema. Aprende-se, portanto, a pesquisar e
a explorar relações causais e a compreender a realidade em diversas dimensões
(sociais, políticas, ambientais, econômicas, de saúde, estéticas, éticas etc.).
Dessa forma, começa-se a lidar com o pensamento complexo. Durante a
roteirização, a criatividade, a imaginação, a lógica e a escrita são
capacidades exploradas. Na produção e na filmagem, requer-se a cooperação, o
trabalho em equipe, a expressão, a auto-imagem, a desenvoltura para solucionar
rapidamente imprevistos, a capacidade de planejamento e previsão, a
organização, a responsabilidade. Na edição, entra em cena o exercício estético
e da produção de sentidos por meio de linguagens complexas (visuais, sonoras e
verbais). Na exibição, coroa-se o trabalho: o reconhecimento, a autoconfiança,
a certeza de que se é capaz de produzir conhecimento e criar um produto
completo. E, se durante todo esse processo professores e alunos participarem
democraticamente, desenvolve-se também a capacidade de convivência respeitosa
entre diferentes saberes, culturas, visões de mundo. Nesse momento é que se
estabelece o diálogo, onde educadores e educandos se transformam. Eis a
verdadeira educação.
É preciso, portanto, tomar a produção de
vídeo como um processo de aprendizado em si, e não apenas um modo de envolver
os alunos no trato de um conteúdo curricular menos atrativo. Claro que, ao
pressupor a pesquisa, a atividade certamente levará ao aprendizado do conteúdo
– de uma maneira criativa, participativa, muito prazerosa e próxima do
cotidiano dos estudantes. Mas o mais importante é a aquisição de diversas
competências necessárias para viver plenamente a cidadania no século XXI.
O papel do professor Para o professor, a
realização de um vídeo com os alunos é também um momento de aprendizado: o da
construção de uma nova relação possível com o aluno, uma relação horizontal,
dialógica.
Trata-se
de uma relação de igualdade na diferença: professores e alunos têm saberes
diferentes, ambos necessários e complementares. Se entendemos que a educação é
a troca entre esses saberes, ambos, professor e aluno, saem transformados da
relação. Entretanto, para que essa troca ocorra, o professor não deve assumir a
postura superior, de quem detém um conteúdo ou técnica a ser transmitida a quem
não tem.
Promover o diálogo é, antes de tudo,
deixar que o aluno expresse o seu universo cultural, social, de problemas,
preocupações, prazeres e gostos. É a partir desse universo que o professor
poderá envolver o aluno em uma atividade na qual ele irá adquirir as
competências para lidar com o mundo. O professor é, portanto, um animador, um
estimulador da participação e da expressão.
É preciso estar atento para fugir de
dois comportamentos extremos: o espontaneísmo e o dirigismo. O primeiro é
aquele que deixa o aluno experimentar, mas acredita que, por si só, na
tentativa e erro, aluno chegará à produção de conhecimento, sozinho. Ao agir
assim, o professor se anula no processo, rejeita também seus saberes, não
estabelece a troca: não aprende e nem contribui para o aprendizado do aluno. Já
dizia Paulo Freire: “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho”. Permitir
a participação do aluno não é se anular: é colocar problemas, desafios,
questionar, fazê-lo procurar outros pontos de vista, fazê-lo justificar suas
escolhas, fazê-lo compreender as escolhas dos outros. É mostrar que, em cada
etapa, há um aprendizado específico além do conteúdo; que nos diferentes
momentos, o aluno está produzindo um tipo de conhecimento e acionando novas
competências, que podem ser transpostas a outras atividades da vida: “os homens
se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”, como disse o educador.
O outro extremo é o dirigismo. Mais
óbvio quando o professor é quem determina o tema, divide as tarefas entre os
alunos, realiza todas as escolhas, estabelece o cronograma, corrige as falhas,
enfim, tem todo o processo sob controle. Mas também em outros comportamentos
menos evidentes e que, à primeira vista, parecem dialógicos: como o de deixar o
aluno levar adiante todo o processo para, no final, fazer o “fechamento” onde
aponta e julga os erros e acertos, dando a última palavra. Ora, a participação
do professor deve ocorrer em todo o processo; a diferença é que não existe a
última palavra. O aprendizado não necessariamente envolve um fechamento, uma
conclusão: ele pode estar em constante re-elaboração, aberto a novas revisões.
Eis o maior desafio para o professor:
superar toda uma tradição de formação e ideologias profissionais que impõem a
ele o papel do planejador, do controlador, do verificador. Ao compreender que
seu papel é de estimular, incentivar, desafiar, talvez o educador possa livrar-se de uma carga de responsabilidades
que rouba a alegria do seu trabalho. E, em vez de responsável/ culpado, possa
sentir-se responsivo: aquele que pode responder criativamente às diferentes
situações-problema que lhe aparecem, que pode inovar.
Juliana Siqueira
1. O que é Pedagogia da imagem?
2. Qual é o papel do professor e do
aluno na produção de um vídeo na escola?
3. Qual é a importância das novas
tecnologias da informação e da comunicação no processo de aprendizagem?
4.
O que você espera desse trabalho que envolve a produção de um vídeo sobre os
desafios de inserção no mercado do trabalho encontrados pelos jovens?