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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

TRABALHANDO COM OS ALUNOS NA PRODUÇÃO DE VÍDEO


A produção de vídeo na escola é um processo que vai muito além do aprendizado das técnicas de roteirização, gravação e edição. Ela é, na verdade, um meio de colocar em prática um modelo de educação em que alunos e professores são co-participantes, autores, colaboradores em diálogo.
Durante as etapas de produção de um vídeo, diversas competências são acionadas. Na identificação e seleção de temas, o professor aprende a abertura para o universo do aluno, para os temas, problemas e gostos que lhe são próprios. Os estudantes aprendem a olhar criticamente o mundo, identificar seu próprio universo e a valorizá-lo. Durante a leitura crítica de vídeos, descobre- se que as mensagens são representações possíveis da realidade e, pelo exercício indutivo, chega-se a outras possibilidades não exploradas pelos meios de comunicação. Na construção do argumento, selecionam-se aspectos importantes do tema. Aprende-se, portanto, a pesquisar e a explorar relações causais e a compreender a realidade em diversas dimensões (sociais, políticas, ambientais, econômicas, de saúde, estéticas, éticas etc.). Dessa forma, começa-se a lidar com o pensamento complexo. Durante a roteirização, a criatividade, a imaginação, a lógica e a escrita são capacidades exploradas. Na produção e na filmagem, requer-se a cooperação, o trabalho em equipe, a expressão, a auto-imagem, a desenvoltura para solucionar rapidamente imprevistos, a capacidade de planejamento e previsão, a organização, a responsabilidade. Na edição, entra em cena o exercício estético e da produção de sentidos por meio de linguagens complexas (visuais, sonoras e verbais). Na exibição, coroa-se o trabalho: o reconhecimento, a autoconfiança, a certeza de que se é capaz de produzir conhecimento e criar um produto completo. E, se durante todo esse processo professores e alunos participarem democraticamente, desenvolve-se também a capacidade de convivência respeitosa entre diferentes saberes, culturas, visões de mundo. Nesse momento é que se estabelece o diálogo, onde educadores e educandos se transformam. Eis a verdadeira educação.
É preciso, portanto, tomar a produção de vídeo como um processo de aprendizado em si, e não apenas um modo de envolver os alunos no trato de um conteúdo curricular menos atrativo. Claro que, ao pressupor a pesquisa, a atividade certamente levará ao aprendizado do conteúdo – de uma maneira criativa, participativa, muito prazerosa e próxima do cotidiano dos estudantes. Mas o mais importante é a aquisição de diversas competências necessárias para viver plenamente a cidadania no século XXI.
O papel do professor Para o professor, a realização de um vídeo com os alunos é também um momento de aprendizado: o da construção de uma nova relação possível com o aluno, uma relação horizontal, dialógica.
Trata-se de uma relação de igualdade na diferença: professores e alunos têm saberes diferentes, ambos necessários e complementares. Se entendemos que a educação é a troca entre esses saberes, ambos, professor e aluno, saem transformados da relação. Entretanto, para que essa troca ocorra, o professor não deve assumir a postura superior, de quem detém um conteúdo ou técnica a ser transmitida a quem não tem.
Promover o diálogo é, antes de tudo, deixar que o aluno expresse o seu universo cultural, social, de problemas, preocupações, prazeres e gostos. É a partir desse universo que o professor poderá envolver o aluno em uma atividade na qual ele irá adquirir as competências para lidar com o mundo. O professor é, portanto, um animador, um estimulador da participação e da expressão.
É preciso estar atento para fugir de dois comportamentos extremos: o espontaneísmo e o dirigismo. O primeiro é aquele que deixa o aluno experimentar, mas acredita que, por si só, na tentativa e erro, aluno chegará à produção de conhecimento, sozinho. Ao agir assim, o professor se anula no processo, rejeita também seus saberes, não estabelece a troca: não aprende e nem contribui para o aprendizado do aluno. Já dizia Paulo Freire: “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho”. Permitir a participação do aluno não é se anular: é colocar problemas, desafios, questionar, fazê-lo procurar outros pontos de vista, fazê-lo justificar suas escolhas, fazê-lo compreender as escolhas dos outros. É mostrar que, em cada etapa, há um aprendizado específico além do conteúdo; que nos diferentes momentos, o aluno está produzindo um tipo de conhecimento e acionando novas competências, que podem ser transpostas a outras atividades da vida: “os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”, como disse o educador.
O outro extremo é o dirigismo. Mais óbvio quando o professor é quem determina o tema, divide as tarefas entre os alunos, realiza todas as escolhas, estabelece o cronograma, corrige as falhas, enfim, tem todo o processo sob controle. Mas também em outros comportamentos menos evidentes e que, à primeira vista, parecem dialógicos: como o de deixar o aluno levar adiante todo o processo para, no final, fazer o “fechamento” onde aponta e julga os erros e acertos, dando a última palavra. Ora, a participação do professor deve ocorrer em todo o processo; a diferença é que não existe a última palavra. O aprendizado não necessariamente envolve um fechamento, uma conclusão: ele pode estar em constante re-elaboração, aberto a novas revisões.
Eis o maior desafio para o professor: superar toda uma tradição de formação e ideologias profissionais que impõem a ele o papel do planejador, do controlador, do verificador. Ao compreender que seu papel é de estimular, incentivar, desafiar, talvez o educador possa livrar-se de uma carga de responsabilidades que rouba a alegria do seu trabalho. E, em vez de responsável/ culpado, possa sentir-se responsivo: aquele que pode responder criativamente às diferentes situações-problema que lhe aparecem, que pode inovar.

Juliana Siqueira

1. O que é Pedagogia da imagem?
2. Qual é o papel do professor e do aluno na produção de um vídeo na escola?
3. Qual é a importância das novas tecnologias da informação e da comunicação no processo de aprendizagem?
4. O que você espera desse trabalho que envolve a produção de um vídeo sobre os desafios de inserção no mercado do trabalho encontrados pelos jovens?

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