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segunda-feira, 28 de maio de 2012

LEITURA COMPLEMENTAR - 2º ANO

A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO

Filósofo, agitador social, diretor de cinema, o francês Guy Debord se definia com “doutor em nada” e pensador radical, inimigo declarado da ordem social existente. Em 1967, um ano antes da eclosão dos acontecimentos históricos de maio de 1968, Debord publicou a sua mais importante obra teórica, “A sociedade do espetáculo”, um livro espantosamente lúcido, demolidor e atual, pois se tornou a obra precursora de toda a análise crítica da moderna sociedade do consumo, baseada na tirania das imagens e na submissão alienante ao império da mídia.
As rápidas transformações do capitalismo contemporâneo, a partir das últimas três décadas do século XX, foram acompanhadas também pela rápida expansão da sociedade do espetáculo. Em um mundo integralmente mercantilizado, a lógica da mercadoria, analisada por Karl Marx, mais especificamente, no sistema de produção, agora se estende a todos os aspectos da vida cotidiana, sejam eles políticos, culturais, sociais ou mesmo individuais; absorveu e invadiu tudo, inclusive as críticas parciais e localizadas. Enquanto o capitalismo aparentava a vida a partir da degradação do ser em ter, o espetáculo apresenta em seu âmago a lógica soberana do aparecer.
Esse controle totalitário, que outrora encontrou bases em sistemas políticos ditatoriais, cuja dominação era materializada por meios tradicionais, tais como a violência física e direta, é exercido, atualmente, por meios sofisticados, mais especificamente a mídia imagética, em especial o cinema, a televisão e a internet, e em nome de uma sociedade democrática.
Nas palavras de Debord, vivemos em uma sociedade do espetáculo, onde as relações sociais tendem a ser, cada vez mais, mediadas pela imagem. O espetáculo representa e afasta o mundo vivido em imagens ao mesmo tempo em que oferece a essas mesmas imagens uma autonomia que chega a ser absoluta no seio de toda a produção cultural. Assim, é compreensível que a mídia imagética não apenas produz e acumula imagens, mas também, e, principalmente, compõe toda a engrenagem espetacular e mercadológica que movimenta a vida social dos sujeitos no capitalismo contemporâneo: “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens. [...] O espetáculo é o capital em tal grau de acumulação que se torna imagem” (DEBORD, 1997).
O homem moderno tem características singulares. Atualmente, vivemos no mundo da técnica, onde parece que tudo é possível, que não há limites para a capacidade de criação humana. Temos TV’s, celulares, carros, computadores; e, a princípio, essas novas tecnologias nos surpreendem por facilitar a nossa vida. Todavia, o avanço exponencial das renovações e inovações tecnológicas hoje quase que totalmente impossibilitam esse sentimento.
É lugar comum esperar que os carros sejam mais rápidos e compactos ou que um celular vai englobar cada dia mais funções, talvez tornando outros eletrônicos obsoletos. Diante de tal constatação, nasce um sentimento de indiferença no ser humano moderno: as possibilidades técnicas são tão vastas que se torna cada vez mais difícil para o homem notar/perceber e ser grato por aquilo que torna sua vida mais fácil. Criou-se o que Debord chama de “pseudonecessidades”, isto é, as pessoas não compram porque precisam daquele produto, ou por terem um desejo real; compram por comprar. Hoje, há o império do consumir por consumir, onde as pessoas conseguem alguma satisfação apenas no ato do consumo, já que este acaba sendo um ato mecânico e o objeto em si não tem significado além da compra. A sociedade do consumo prospera porque consegue tornar perpétua a insatisfação dos sujeitos.
A sociedade do espetáculo, portanto, está inserida no que podemos chamar de “democracia totalitária”, que, ao operar, sobretudo, através da manipulação de falsas necessidades, principalmente por meio da mídia imagética, engendra-se em todos os níveis, em todos os aspectos da vida dos indivíduos.

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