Como professora de Sociologia, deparo-me, infelizmente, com esse
questionamento não apenas por parte dos meus alunos, jovens que, atualmente,
encontram-se, muitas vezes, esvaziados por conta de uma postura apática,
acrítica e anestesiada a respeito de questões cruciais que batem a sua porta,
mas, também, por pessoas do meu próprio cotidiano, familiares, amigos, colegas
de trabalho que, acostumados com as “facilidades do mundo moderno”, acreditam
que o conhecimento crítico e reflexivo, a desnaturalização de significados
socialmente construídos, não encontram espaço em uma sociedade onde os valores
estão intimamente relacionados ao capital, ao lucro, à mais-valia, à eficiência
do mundo capitalista.
A Sociologia é uma ciência moderna. No contexto
do conhecimento científico, ela surgiu como um corpo de ideias a respeito do
processo de constituição, consolidação e desenvolvimento da sociedade
pós-feudal. Sabe-se que é uma ciência fruto da discussão dos problemas sociais
resultantes das transformações econômicas, políticas, culturais e sociais
ocorridas, no século XVIII, com as Revoluções Industrial e Francesa.
Apesar
de ter conquistado o status de ciência, ou seja, um conhecimento marcado pelo
cuidado metodológico, com um objeto de estudo específico, com um profissional
capaz de compreender as relações e os fenômenos sociais entre os sujeitos de
uma mesma comunidade, a Sociologia, hoje, apresenta-se como uma ferramenta científica
que ultrapassa uma visão pragmática voltada à aplicabilidade e utilidade
técnicas, características marcantes da atual sociedade capitalista globalizada
cujo princípio norteador é encontrar resultados lucrativos.
Pense,
estudante, para além dessa mesquinharia! O olhar sociológico procura estranhar
aquilo que nos é familiar ao mesmo tempo em que evidencia, diariamente, que as
nossas práticas sociais não são naturais, ou seja, não nascem conosco. As
nossas relações são construídas socialmente. Você é fruto da sociedade
brasileira e, também, agente transformador dessa mesma sociedade.
Temos
que questionar, portanto, não a aplicabilidade da Sociologia nas relações
sociais cotidianas, mas, sobretudo, reconhecer que o olhar sociológico
possibilita-nos o exercício da reflexão crítica e construtiva sobre a vida, o
nosso dia-a-dia, os significados que atribuímos ao mundo e a nós mesmos. A Sociologia
é um instrumento capaz de desvendar os nossos olhos, tornar possível a
problematização de fenômenos sociais responsáveis pela desigualdade; miséria;
exploração; xenofobia; homofobia; violência; criação do analfabeto político,
como diria Bertolt Brecht; corrupção; ausência de investimento público em
setores essenciais; abusiva cobrança de pedágios; racismo; machismo; abandono;
dificuldade de acesso de estudantes pobres em universidades públicas; inflação,
enfim, todas as questões que influenciam a dinâmica da nossa própria sociedade.
Por isso, não pergunte “Sociologia pra
quê?”, mas indague “Sociologia por
quê?”. Venha e construa as várias respostas possíveis para essa questão sociológica!
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